Helen Keller

Helen Keller

Helen Keller nasceu em 1880 no estado do Alabama, EUA. Até os dezenove meses foi uma criança normal. Por essa época, contraiu uma febre intensa, atribuída provavelmente à escarlatina. Depois de se recuperar de forma rápida, sua mãe começou a notar que ela não fechava normalmente os olhos. Pouco tempo depois, sua cegueira foi diagnosticada, bem como a surdez, o que contribuiu evidentemente, para que ela também não aprendesse a falar. Helen era cega, surda e muda desde os primeiros anos de sua infância.

Ela cresceu, porém, seu caráter originalmente meigo e sereno, dissolvia-se em ataques de fúria, sempre que não conseguia fazer-se entender. Atirava-se ao chão em incontroláveis gritos e gemidos, como se fosse um animal. Seus pais sofriam enormemente ao vê-la assim, sem saber o que fazer. A mãe, impotente perante tanta fúria, cedia-lhe em tudo superprotegendo-a. Anos mais tarde, já uma conhecida escritora, Helen escreveu: “Sentia que mãos invisíveis me prendiam e fazia esforços desesperados para me libertar”.

Quando sua mãe se encontrava à beira do desespero, soube por meio de uma instituição de nome Perkins, localizada na Inglaterra, que uma especial professora, recém-diplomada, uma jovem irlandesa chamada Anne Sullivan, poderia auxiliá-los. Esta jovem que por muitos anos de sua vida passara por terríveis privações, chegou cega a essa instituição, devido a um tracoma, mas, graças a duas cirurgias que fez, voltou a enxergar, tornando-se mais tarde professora de cegos.

Ao chegar ao Alabama, Anne Sullivan surpreendeu-se com a inteligência que irradiava do rosto da pequena Helen.  Esta acorreu-lhe até a carruagem logo que Anne desceu; tateou-lhe o vestido e o rosto e quis abrir-lhe a mala. Sua preceptora tirou então de dentro dela, uma boneca que os alunos da Perkins haviam enviado à menina e deu-lhe de presente. Ela se acalmou  imediatamente e pôs-se a brincar. Anne soletrou em sua mão a palavra b-o-n-e-c-a. Isto para Helen era algo insólito e atraiu sua atenção ao tentar imitar os movimentos dos dedos de sua nova preceptora. Foi o primeiro esforço consciente para ensiná-la alguma coisa. Com o passar dos dias, foram viver apartadas de seus pais, morando numa pequena casa ao lado.

Durante as primeiras semanas, travou-se entre as duas uma feroz batalha de vontades. Foi uma luta física e mental de que Anne Sullivan triunfou, ainda que por diversas vezes tivesse que dominá-la à força para vencer sua tenaz resistência. Dizia sua professora: “Seu espírito inquieto tateia nas trevas. Suas mãos nunca satisfeitas, destroem tudo o que tocam, porque não sabem o que fazer às coisas.”

Em pouco tempo, Sullivan era capaz de perceber pequenas mudanças nas pupilas de Helen e que expressavam seus desejos.  Ao fim de duas semanas, um raio de luz despontou. Sua preceptora levou-a até uma fonte e acionou uma bomba para encher um jarro de água. Quando a água começou a cair no jarro e sobre a mão da menina, Anne soletrou a palavra á-g-u-a na outra mão.  A palavra, tão imediata à sensação da água fria que lhe corria sobre a pele, pareceu-lhe surpreendê-la. Seu rosto se iluminou. Helen recordaria para sempre este acontecimento com as seguintes palavras: “Fosse como fosse, o misterioso segredo da linguagem revelou-se-me naquele instante. Descobri que água significava aquela coisa deliciosamente fresca que me tinha corrido pelas mãos. Aquela palavra viva acordou meu espírito: deu-lhe luz, esperança, alegria e o pôs em liberdade”. Helen regressou à casa de seus pais em visível estado de agitação. Tocava em tudo ao andar e de tudo queria saber o nome. Agora entendia que a cada coisa correspondia um nome e queria conhecê-lo. Seu vocabulário aumentou enormemente, num curto espaço de tempo e com uma rapidez surpreendente. Gritava de alegria a cada descoberta, abraçava e beijava sua professora.

Na primavera de 1890, ouviu falar de uma menina norueguesa, cega, surda e muda que aprendera a falar. Imediatamente soletrou nas mãos de Anne Sullivan “Tenho que falar.” Ela a levou à Escola de Surdos Horace Mann, em Boston onde aprendeu a sentir a voz humana através do toque nos lábios e na garganta de seu interlocutor, e pôde assim aprender, a repetir  letras e sílabas. Até os 10 de idade ela emitia apenas os sons roucos dos mudos. Dedicou-se a aprender a falar durante semanas, meses e anos, aperfeiçoando sua pronúncia. Depois de algum tempo de treino, tornou-se expert em ler nos movimentos dos lábios, por intermédio das suas vibrações.

Aprendeu sozinha o braille, identificando o que era uma letra no novo alfabeto, aprendendo assim a formar novas palavras. Aos dez anos, lia com avidez pelo método, chegando a sangrar a ponta de seus dedos e conseguia se comunicar com seus semelhantes através do alfabeto dos mudos. Helen e Anne Sullivan tornaram-se grandes amigas, amizade que perdurou por meio século. “O dia mais importante de toda minha vida foi o da chegada de minha professora Sullivan. “Fico profundamente emocionada, quando penso no contraste imensurável de duas vidas que se juntaram. Ela chegou no dia 3 de março do 1887, três meses antes de eu completar 7 anos. Belos dias como aqueles fizeram o meu coração bater ao compasso de uma música que nenhum silêncio poderia destruir. Era maravilhoso ter ouvidos e olhos na alma. Isto completava minha glória de viver”.

Na instituição Perkins ela leu muitos livros em braille, estudando sistematicamente geografia, aritimética, zoologia, botânica e outras disciplinas. Quando viajava junto à sua preceptora, esta soletrava-lhe na mão as descrições do que ia vendo:  paisagens, montanhas, rios, aldeias, cidades, o aspecto das pessoas, seu modo de vestir. Helen tornava-se pouco a pouco, uma linda jovem, cheia de encanto, sensibilidade e espírito.

O passo seguinte seria sua educação universitária. Estudou em Cambridge, no estado de Massachusetts, onde recebeu intensa instrução, tendo sempre ao seu lado, sua querida preceptora que incansavelmente dava-lhe as lições, dedilhando-as em suas mãos. Helen, não podia tomar notas, pois elas estavam ocupadas em “ouvir” e nesse ponto, o método Braille auxiliava e muito, principalmente, durante a época dos exames. Licenciou-se em inglês e filosofia, recebendo menção honrosa. Sua fama pouco a pouco, se espalhou e ela começou a receber convites para que contasse sua história de sua superação “das trevas de seu mundo” e de como chegou aonde chegou. Sua professora também era convidada a falar sobre como tinha procedido na educação de sua discípula. Viajaram por diversas partes do mundo convidadas a darem conferências e receberam também, títulos e condecorações ao redor do planeta.

Por maiores que fossem seus interesses, Helen Keller nunca esqueceu as necessidades das pessoas cegas e surdo-cegas. Desde sua juventude, trabalhou pelo bem estar dessas pessoas, comparecendo perante governos e autoridades de diversas nacionalidades, dando conferências, escrevendo livros e artigos e, sobre­tudo, pelo seu exemplo pessoal de perseverança.

Com o passar dos anos, a saúde de sua preceptora, quase cega novamente, piorava; vindo a a falecer em 1953. Nesse mesmo ano, foi-lhes outorgado a maior condecoração americana, A medalha Roosevelt, por feitos de caráter único e alto significado.

Também no ano de 53, Helen Keller esteve no Brasil, a convite oficial do governo brasileiro e da Fundação para o Livro do Cego. Realizou visitas e palestras no Rio de Janeiro e em São Paulo, dando grande impulso à educação e à reabilitação de cegos no Brasil. No Hospital dos Clínicas, na capital paulistana, falou para doutores e estudantes dos departamentos de oftalmologia e otorrinolaringologia onde estiveram presentes cerca de 550 pessoas. Nesse local, alguém perguntou a ela:

_ O que a senhora mais gostaria de ver, se Deus lhe desse a visão por cinco minutos? E ela respondeu:

_ As flores, o pôr do sol e o rosto de uma criança!

Helen faleceu em 1968, aos 88 anos. Foi uma mulher profundamente espiritual e sua fé sempre a acompanhou. Durante suas horas de repouso, terminadas suas ocupações diárias, voltava-se ao profundo silêncio que só os cegos-surdos-mudos conhecem.

“Espero feliz, a chegada do outro mundo, onde todas as minhas limitações cairão como grilhões; aí encontrarei minha querida professora e me dedicarei a um trabalho muito maior do que aquele que até agora conheci.”

Sua vida continuará sendo um estímulo extraordinário a todos que  conheceram sua história.

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Helen Keller (1880-1968)

Eduardo Augusto

28/03/13


Marie Curie, uma mulher à frente do seu tempo

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Marie Curie nasceu na Polônia em 1867 e, ainda jovem, matriculou-se no curso de Ciências da Sorbonne, em Paris. Lá permaneceu durante muitos anos, até conhecer seu futuro marido, o cientista francês Pierre Curie. Tal como ela, um apaixonado pelas pesquisas científicas. Admirava-lhe ter encontrado uma mulher encantadora que dominava a linguagem técnica e as mais complicadas fórmulas. Casaram-se e foram viver juntos na capital francesa, em um pequeno apartamento. Tiveram uma filha de nome Irene e que mais tarde escreveria a biografia de sua mãe.

Até fins de 1897, Marie já tinha obtido dois diplomas universitários e interessava-se agora em fazer um doutoramento. Interessou-se pela pesquisa de Antonie Becquerel, que descobrira que os sais de urânio emitiam espontaneamente, sem exposição à luz, raios de natureza desconhecida. Era a primeira verificação do fenômeno que Marie viria a batizar de radioatividade. Enquanto investigava os raios provenientes do urânio, descobriu no sótão da Escola de Física, onde realizava suas pesquisas, que outro elemento também emitia espontaneamente  raios semelhantes.  Era o tório. De onde provinham então essas irradiações anormais? Nas suas experiências ela examinou todos os elementos químicos conhecidos. Com o auxílio de seu incansável marido, começaram a separar e a medir a radioatividade de todos os elementos contidos na pecheblenda, um minério de urânio. Em 1898, o casal anunciou o descobrimento de uma dessas substâncias, batizada de Polônio, em homenagem à terra natal de Marie. E em dezembro do mesmo ano, anunciaram a existência do rádio, dotado de enorme radioatividade. Faltava descobrirem o seu peso atômico, o que aconteceu quatro anos depois.

Em prol da ciência viveram uma vida austera, sem luxo, dedicando-se por horas a fio à pesquisa, sem nem mesmo comer ou dormir direito, para provarem suas descobertas, assim deixando um importantíssimo legado à humanidade. Tamanha exposição à radioatividade custou-lhes a saúde. Graças a esses dois maravilhosos cientistas, o rádio passou a ser usado no combate ao câncer, deixando de ter um simples interesse experimental. Negaram-se a patentear suas descobertas por saberem que contribuiriam de alguma forma no combate a essa temida doença. Em 1903, a Academia de Ciências de Estocolmo, anunciou que o Prêmio Nobel de Física  seria dividido entre o casal Curie e Antonie Becquerel em reconhecimento por suas descobertas da radioatividade.

Em 1906, Pierre veio a falecer, devido a um atropelamento. Esse acontecido marcou profundamente à sua querida esposa. Em março do mesmo ano, o Conselho da Faculdade de Ciências decidiu por unanimidade , outorgar à viúva a cátedra que havia sido ocupada pelo marido na Sorbonne. Esta era a primeira vez que a uma mulher era concedida alta posição no ensino universitário. Em seu primeiro dia de aula na faculdade, foi ovacionada por uma plateia de estudantes ávidos por seu conhecimento e certos de que estavam diante de uma inigualável cientista. Em 1911, ela recebeu o Nobel de Química. Durante mais de cinquenta anos, não houve mais ninguém a receber o prêmio por duas vezes. Foi a única pessoa a receber o Prêmio Nobel, em áreas científicas distintas. Ao longo dos anos, condecorações, títulos e diplomas foram-lhe concedidos de diversas universidades americanas e européias por seu incansável trabalho de pesquisa.

Em maio de 1934, acometida por uma gripe, teve de recolher-se. Durante mais de 35 anos manejara o rádio, respirando o ar das emanações de elementos radioativos. Os exames viriam a dar a causa de sua morte: leucemia por exposição excessiva ao rádio.

“O elemento 96 da tabela periódica, o Cúrio, símbolo Cm foi batizado em honra do casal Curie.

No dia 7 de novembro de 2011 recebe homenagem na página inicial do motor de busca Google por seus 144 anos desde a data do seu nascimento através de um Doodle comemorativo que ainda se encontra disponível em seu histórico de Doodles.

Eduardo

20/03/13


Uma flor para Dona Etelvina

Flor

Dona Etelvina sempre deve ter gostado de flores e de plantas e certamente as regava todas as manhãs, ou quem sabe, ao final da tarde. Nenhuma delas passava desapercebida. Uma pétala que se abriu, um brotinho nascendo no vasinho, uma muda que dará para a vizinha. Da janela de seu apartamento avistava, o bairro de Santo Antonio em Belo Horizonte. Ele já não tinha mais as mesmas casas, a mesma tranquilidade. Até mesmo os meninos que jogavam bola, já não aparecem mais. Prédios e mais prédios fazem o verde esconder-se entre o cinza.

Então, numa manhã de fevereiro, não pensou duas vezes em salvar aquela flor em frente à casa que já estava sendo demolida há alguns dias. Munida de uma tesoura atravessou a barulhenta rua, ultrapassou a fita de segurança e foi-se ver com a flor. “Aqui ela não ficará!” De repente, um estrondo. Uma parede desaba. Operários que estavam embaixo davam sinal para que o operador desligasse logo a escavadeira. Gritos de desespero. Vizinhos aproximavam-se das janelas, porteiros saiam de suas guaritas sem saber o que estava acontecendo…

Dona Etelvina com suas mãos de fada não colherá mais sua flor. Silêncio por toda a rua.

Ficará na lembrança dos que a conheceram, sua presteza, sua vivacidade, seu carinho pelas plantas que cuidava, deixando em cada canto, um jardim a colorir, uma pétala a se abrir!

Dedico esse pequeno texto à sua memória.

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/15/interna_gerais,350645/muro-desaba-e-mata-mulher-no-bairro-santo-antonio.shtml

Eduardo Augusto

19/03/13.