Temos

Passava um dia desses por uma rua quando vi um mendigo lendo um jornal. Ele me parecia bastante interessado. Momentos depois, vinha descendo pela calçada quando o vi ao longe rasgando todas aquelas notícias com uma fúria que era ao mesmo tempo engraçada! Ele pegava algumas páginas, dava uma passada de olhos e, em seguida, fazia picadinho delas. Chegou a chutar algumas! Ao passar bem em frente a ele, li entre toda aquela papelada no chão a palavra Temos.

Pensei: não temos tantas boas notícias para dar. Ou, se as temos, estarão escondidas em meio a um mar de negatividades. Temos gente passando fome? Temos gente sem onde morar? Temos violência, guerras? Astutos ganhando encima de inocentes? Sim, temos.

Tememos nossa própria sorte enquanto o homem for o lobo do homem, como diria o filósofo Thomas Hobbes.

Eduardo

26/09/12


Combinado?

Minha filha Clara está adorando assistir desenhos animados. Quem nunca curtiu, quando era criança, Pernalonga e Patolino, Mickey e Donald e tantos outros? Não tem problema nenhum ela querer. A questão é querer assistir sem nem tomar o café da manhã, sem escovar os dentes, sem fazer o para casa… E, se deixarmos, sem nem almoçar!

Não teve jeito. Tivemos que impor horários. Contudo, minha pequena um dia desses se rebelou _ se é que posso dizer assim.

_ Filha, vem almoçar!  Disse, calmamente! Uma, duas, três vezes, quatro vezes … e nada! Desliguei a TV. Ela ficou indignada e muito chateada comigo, apesar de todo e qualquer combinado! Me perguntou soluçando, com um olhar inquisidor (e ela só tem cinco aninhos):

_ Papai, por que que criança nunca pode fazer o que quer, heim? Por quê?

-É o contrário, filha! (Com esta pequena frase tentava explicar a ela que são os adultos que quase nunca podem fazer tudo o que querem).

Verdade seja dita agora: nem crianças, nem adultos podem fazer tudo que o querem! Existem regras, normas, direitos, deveres, leis e outras tantas coisas que Freud explica. E não somente ele!

Deixei que ela se acalmasse, enquanto ficávamos em silêncio. Dez minutos depois, já estava tudo bem, como se nada tivesse acontecido. Como me disse uma amiga: limite dá forma!

Combinado?

Eduardo

26/09/12

Imagem meramente ilustrativa.


Ruído

Sabe aquela situação quando você sem querer, esbarra na tecla de canais e entra aquele ruído pela sala? Desconfortável, não é? Quase desesperadamente, você procura o controle para logo abaixar o som. Pior que isso, só mesmo o ruído da irritabilidade. Como incomoda! E é desconcertante a princípio.

Algumas pessoas são facilmente irritáveis. É estranho ser assim. Não entenda de minha parte algum julgamento puro e simples. Apenas acho que, quanto mais você se deixar irritar, mais ruído fará. Se isso acontecer, acione seu controle remoto bem de perto! Assim poderá assistir, quem sabe, cenas mais surpreendentes e belas.

Eduardo

26/09/12


11 de setembro

11 de setembro

“A Natureza é um poema misterioso, cujo enigma, se nos fosse revelado, contaria a Odisséia do Espírito que foge de si, a buscar-se…”

Schelling, filósofo alemão. 

“Duas coisas me encantam nesta vida: o imenso céu estrelado sobre a minha cabeça e a moral no coração do homem.”

Kant, filósofo alemão.

Enquanto penso, lembro-me nesse exato instante, da famosa estátua de Rodin, “O Pensador”. Ele está ali a segurar sua cabeça que parece pesar. Imerso talvez, diante da plenitude da vida, do mistério e da pergunta…

Há uma frase do filósofo alemão Adorno, que é mais do que uma provocação: “As idéias nada realizam”. Pode ser que sim, se pensamos na grande quantidade de teses acadêmicas sobre tantos assuntos, propondo tantas soluções, para os mais diversos problemas. Não foi Marx, outro importante pensador quem disse solenemente: “Os filósofos até agora interpretaram o mundo, é preciso transformá-lo”.

No dia 11 de setembro de 2001, eu estava em Belo Horizonte, num Congresso Internacional de Filosofia que tratava da vida e da obra do filósofo alemão, Schelling. Dentre os muitos livros que ele escreveu, um chamou minha atenção desde que escutei pela primeira vez seu título: “As Eras do Mundo”. Um belo título para um livro filosófico. Nessa obra, o autor fez um esforço fantástico para tentar entender como o mal entrou no mundo. Se Deus é bom, como então o mal foi possível? Um dos palestrantes se encarregou de tentar nos fazer entender esse intrincado problema sob a ótica de Schelling. Por sinal, esse é um livro bastante interessante e especial, já que, para o filósofo alemão o mundo espiritual é uma realidade. Estávamos ali, imersos em meio a tantos questionamentos quando ficamos sabendo, antes do almoço, do ataque terrorista às Torres Gêmeas em Nova York. Nós, que tentávamos decifrar o problema do mal, estávamos bem diante dele, de alguma forma. Quando saí para o almoço, conversei com uma  universitária que me disse o que estava acontecendo. Até falou que tinha escutado alguém dizer que o mundo iria acabar. Vejam só! Às vezes, o trivial pode ser simples e até banal! Há momentos em que achamos que nada está acontecendo! O mundo não fica apenas do lado de lá. Encontrei-me momentos depois com um grande amigo, espiritualista sério, que se mostrou bastante preocupado com o que estava ocorrendo. Havia com certeza, uma comoção no ar, que se espalhou pelos corredores da Faculdade de Filosofia da UFMG. Eu diria até que havia um certo alarmismo disfarçado de não sei o quê. Bachelard, filósofo francês, disse certa vez: “Somente a violência é convincente”. Provavelmente ele teria passado também por uma grande comoção para poder dizer assim, com todas as letras que, diante da barbárie, nos rendemos de alguma forma.

O mundo é uma bola que gira no espaço. Cá estamos! De vez em quando, à noite, olhamos para o alto para contemplar as
estrelas e sentir no infinito, nosso espírito mergulhado em um corpo, como diria Platão. De vez em quando, dizemos que já é hora de dormir e descansar… E assim, vamos levando a vida, acalentando nossos sonhos para um dia despertar.

Façamos a nossa parte. Ela é a parte de todos! Trabalhemos pela paz.

Eduardo Augusto

01/06/06