Ensinar é também aprender

Muitas crianças apresentam dificuldades de aprendizagem na escola e que, muitas vezes, se reproduzem em casa. Na verdade, tudo depende muito da forma como se ensina.

Só para dar um exemplo: se você mostra a uma criança a foto de um rio onde estão jogadas muitas garrafas plásticas e pergunta a ela se isso está correto, pode ser que ela responda dizendo que não. Não está certo. E muitas vezes talvez ela diga isso, até por um certo automatismo; mas também, ela poderá focar no barco ao fundo e dizer que aqueles objetos flutuando na água estão o estão atrapalhando e que por isso ele está parado.

Numa perspectiva mais ampla podemos afirmar que, muitas escolas formais perderam o rumo do que significa verdadeiramente ensinar a uma criança. Isso se deve bastante a essa cultura pró vestibular que, pouco a pouco, infelizmente, foi invadindo os espaços pedagógicos, desde as classes iniciais. Não vou nem falar dos livros didáticos, sobretudo destinados a crianças pequenas.

Uma educação distanciada da vida, fria e racionalista, traz consequências nem tão difíceis assim de mensurar.

Muita coisa mudou… o que antes funcionava, hoje já não funciona mais.

Mas, claro, há esperança, não só da parte de educadores que fazem e pensam esse rico processo ensino-aprendizagem, propondo novos olhares e soluções; como também, de pais antenados com essa nova época.

Escola parada


Ler e viver

Livros

Desde pequenas, as crianças, de certa forma, já começam a se afastar da leitura. O motivo é simples: as interpretações de texto cobradas pela escola.

As perguntas elaboradas exigem respostas “ao pé da letra” o que fará com que elas tenham de retomar o texto. Claro, na maioria das vezes, isso é muito chato de fazer.

Uma boa história fala por si trazendo todo o seu encanto.

18/08/15


Içami Tiba

Içami

Soube há pouco da morte do médico e educador, Içami Tiba. Fará falta com certeza.

Levei um bom tempo para ler o seu mais conhecido livro “Quem ama, educa”, mas, quando o fiz, me surpreendi muito; sobretudo, com o que estava nas estrelinhas: finas percepções sobre o ato de educar e vindas de alguém que, certamente, era um grande observador da alma humana.

Fica o seu legado.

Deixo aqui esta bela reflexão de uma de suas obras:

“Não olhe as pessoas só com os seus olhos, mas olhe-as também com os olhos dela”.

02/08/15


Frozen

Frozen 1

Frozen, animação da Disney, foi e continua sendo um grande sucesso e por sinal, não tem hora para acabar. Ainda mais se pensarmos na possibilidade da história ter uma continuação. Um fenômeno global que surpreendeu até mesmo os seus criadores.

Assisti no cinema com minha filha, que ficou encantada e depois foi ver no dia seguinte com a mãe e depois viu outras tantas vezes em casa e com as amiguinhas.

Particularmente fiquei impressionado com a narrativa tão bem construída. É um filme que diverte e emociona. Acho que, mais um pouquinho, ele seria um filme só para menininhas. Mas, isso não aconteceu. E, o motivo, na minha opinião, se deve ao talento de profissionais apaixonados pelo que fazem e que tem a dimensão do que é produzir um filme para crianças, sem ligar propriamente para questões de gênero.

A música Let it go (Livre estou) com a incrível perfomance (se é que posso dizer assim) de Elsa, personagem principal, gerou uma identificação quase que imediata com as meninas. O início da canção mostra Elsa solitária, subindo uma montanha gelada e que, com gestos vigorosos, vai criando tudo em volta com seus poderes; inclusive o boneco Olaf, outra estrela da animação.

A princesa do gelo, mostrou a que veio: elegante e senhora de si, mandando às favas o medo de ser quem ela era. É azul e branco o país da imaginação! A música ajudou e muito a criar esta atmosfera e foi um sucesso estrondoso em diversos idiomas.“De longe tudo muda… Parece ser bem menor…Os medos que me controlavam, não vejo ao meu redor… É hora de experimentar! Os meu limites vou testar! A liberdade veio enfim…pra mim…” (Trecho da canção).

É uma animação bem interessante que fala de medos, vaidades, solidão, coragem, perseverança, amor, sem esquecer é claro, do humor.

Enquanto isso, reprises e mais reprises… papais, mamães, titias e titios e toda a família, quem sabe, se encantando com as singelas encenações dessas pequenas princesas… como vimos outro dia, com minha sobrinha Gabi, filha do Bruno e da Márcia.

01/02/15


Na veia

Sou negrão

 A tolerância é a harmonia na diferença. Não é só um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade de ordem política e jurídica. 

Trechos da Declaração de Princípios sobre a Tolerância.

Conferência Geral da Unesco. Paris, 16 de novembro de 1995.

Mesmo quando se está aos quase 45 do segundo tempo. Contra o racismo toda voz que se levanta pede igualdade agora. Ela certamente nos torna mais humanos. O jogo entre Santos e Grêmio na semana passada pela Copa do Brasil, tinha tudo para ser um belo espetáculo, mas a sombra do preconceito nos cobriu de indignação e fez calar a pátria de chuteiras. Silêncio, raiva, inconformismo. Aos que chamavam o goleiro Aranha de “macaco”, “preto fedido” e outros adjetivos desprezíveis, ele respondeu batendo no braço: sou preto, sou! Sou negão, sou! E assim ele se fez livre das teias da discriminação. Nas redes sociais desabafou: “o racismo de qualquer modo ou gênero, é um mal e todo mal não detectado cresce e se fortalece. Ontem, esse mal mostrou sua cara e isso foi bom, porque eu tenho certeza que será, mais uma vez, combatido e enfraquecido, como em 1963, quando Martin Luther King fez o famoso discurso “I Have a Dream”.

Já estamos no século XXI, mas, como disse Aranha: dói, dói muito! Caberá à justiça punir os responsáveis pelos crimes de injúria racial. A alegria do futebol não poderá mais ser manchada por alguns que querem fazer valer sua forma de entender o mundo.

Histórias como essas entram na veia, por isso sou negrão! Como diz na belíssima música de Rappin Hood: “A liberdade do negro, tanto teve de lutar. O negro não é marginal, não é perigo. Negro ser humano, só quer ter amigo”.

(Sou negrão) https://www.youtube.com/watch?v=c6erEPX5MUM

Eduardo Augusto

03/09/14

 

 

 

 

                                                                      


O ar que a gente respira

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Há uns anos atrás, minha filha teve uma crise de bronquite. Na madrugada, fomos monitorando a situação, porém, chegou um momento em que decidimos levá-la ao hospital. No caminho, ela perguntou dentro do carro: porque eu tenho de ir pro hospital? Só porque eu não tô respirando? Só por isso?! Pensei comigo depois: sim, filha, só por isso! Porque você é o ar que a gente respira! Um abraço a todos os pais!

Eduardo Augusto

10/08/14


Histórias que não caem

Enem

Não sei se vocês se lembram, mas o escritor Mário Prata tem uma história interessante com vestibulares. Certa vez ele resolveu fazer as questões de interpretação de texto de um livro seu que “caiu” numa prova. Ele conta, com uma gostosa ironia, que errou todas as questões!

Outro dia, lendo uma historinha muito interessante do Para Casa da minha filha, pensei também no enorme tempo que já se perde com as interpretações de texto. E isso desde tenra idade.

De fato, elas são de pouca valia, além disso, acabam aos poucos, com aquele lindo encantamento que uma bela história pode despertar nas crianças. Por isso, diante de algumas perguntas tolas dos livros didáticos, pergunto à minha filha:

_ Clara, você entendeu isso aqui? _Não, papai! _Então deixa pra lá, filha, que isso não tem a menor importância! rs

É preciso deixar que as histórias falem por si! Isso e tão somente!

Eduardo Augusto

05/08/14


Um filósofo leve

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Tive a oportunidade de estar pelo menos três vezes com Rubem Alves. Na primeira delas, em 1995, em Ouro Preto- MG. Ele estava no auge de sua produção literária, seus livros e palestras ganhavam uma audiência que só aumentava a cada dia.

Ele tinha a capacidade de dizer as coisas mais importantes com um humor que se apresentava despercebidamente. De repente uma conversa sobre a razão do existir se direcionava para um verso de Cecília Meireles, Adélia Prado, Fernando Pessoa e outros. Rubem era capaz de estabelecer pontes entre o real e o imaginado, entre filosofia e literatura, entre o cotidiano e a poesia; despertando naqueles que o escutavam ou liam, o nostálgico sentimento da beleza e da infinitude. Uma flor, um pássaro, um jardim, uma cebola, uma caixa de brinquedos, uma sala de aula; temas de muitos dos seus textos, descortinavam o nosso olhar para o caleidoscópio da vida, que assim ganhava novas cores, sons e ritmos à luz de detalhes inusitados.

Muitas de suas histórias ficarão para sempre na memória de seus admiradores e das novas gerações. Uma delas em especial, ele gostava sempre de contar: “Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: “Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?”. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: “Não chore, que eu vou te abraçar…” Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Rubem Alves, poeta também crianças. Gostava de estar junto delas investigando o mundo, montando quebra-cabeças, desmanchando outros, com especial atenção a essa fantástica lógica que habita o universo infantil e revela dele suas mais instigantes e belas explicações.

Eu, um jovem estudante de filosofia, resolvi me aproximar do Mestre, ao final daquela palestra em Ouro Preto e pedir a ele um autógrafo. Ao vê-lo tão de perto, impressionou-me o brilho do seu olhar.  Estendi a mão ao cumprimentá-lo. Ele perguntou meu nome e disse: _ Uma alegria, Eduardo! Feliz, respondi: _ Espero revê-lo outras vezes!

Não reparei num primeiro instante, o que ele havia escrito para mim, pois mais pessoas se achegavam. Momentos depois, quando fui ler o que estava no papel, não entendi uma palavra sequer.

Por uma feliz coincidência, eu o encontrei na saída do grande teatro e com o livro aberto na dedicatória disse a ele: “Rubem, não consigo entender sua letra!” Ele sorriu e falou: “tem horas que nem eu entendo!”

Colocou os seus óculos e disse com toda solenidade: Há filósofos leves e pesados, há filósofos leves que fazem voar. Leia o “Direito de Sonhar de Bachelard”. Leia “Asssim Falava Zaratustra” de Nietzsche. Filosofia pode ser divertido!

Não me esqueci de seus conselhos!

Aqui, minha pequena homenagem a esse ser humano tão especial! Ficam os ensinamentos deste grande Mestre e que muitas e muitas gerações conhecerão através de seus livros, entrevistas e palestras. Um legado de amor à vida, à beleza e à poesia. Siga em paz, no caminho da Luz, Rubem Alves.

 Eduardo 

20/07/14


Mudar o mundo

mundo

Há uns anos atrás participei de um seminário sobre a obra de Kierkegaard na Faculdade de Filosofia da UFMG. Nosso professor achava interessante que ficássemos todos em círculo, a fim de que pudéssemos conversar e debater de uma maneira proveitosa. Como eu chegava cedo ao local,  dispunha as cadeiras dessa forma.

Um manhã, após montar aquela configuração, olhei para a sala e pensei: se sou capaz de provocar essa pequena mudança “no mundo”, quantas mudanças posso realizar!

Nesse mesmo dia, todos a postos, antes de começar a aula, o professor olhou para mim e me perguntou:

_ É você que está dispondo as cadeiras em círculo para o nosso seminário, não é mesmo?

_ Sim, sou eu!

Ele sorriu e disse: Obrigado!

É importante pensar como somos afetados pelo meio que nos rodeia e como afetamos também esse mesmo meio, através de nossas palavras, sentimentos, pensamentos e gestos.

Eduardo  

01/06/14


Uma nova escola

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Nem tudo é poesia, mas, pode se ensinar poeticamente, sobretudo às crianças. Fico pensando em quão estéreis são hoje, muitos livros didáticos destinados a elas. Excelentes projetos gráficos, porém, vazios de real significação e que levam para muito longe a imaginação e a criatividade, ou seja, distanciam a criança de sua forma bonita de ver e compreender a vida e o mundo. Quem acompanha de perto essas questões, sabe: uma nova educação surgirá! Já está surgindo, em diversas partes do mundo! Não tem outro caminho, nestes tempos tecnológicos e avassaladores. Uma educação voltada à sensibilidade sempre teve e terá lugar!

Eduardo

25/04/14