A eterna novidade do mundo

crianças em fila

Hoje, enquanto aguardava na escola a saída da minha filha, me deparei com uma turma de crianças de uns 5 anos de idade. Impossível ficar indiferente a toda aquela vivacidade e energia, quase todas saltitantes no fluir da vida, sem as preocupações e tensões do adulto.

À frente ia a professora, tão senhora de si, o olhar atento. Como uma maestrina, segurava a mão de uma menininha que era só alegria. Os pequenos olhavam em todas as direções, brincando de viver.

As crianças estão abertas “à eterna novidade do mundo”, como disse o poeta.

27/08/15


A Coragem de Ser Imperfeito

Corda-bamba-divulgação

No ano passado li um livro muito especial: “A coragem de ser imperfeito” . Trata-se de uma pesquisa de 12 anos da assistente social norte-americana, Brené Brown.

Hoje me lembrei desse livro ao participar da reunião de condomínio no meu prédio. O síndico ao abrir a assembléia disse:

_ Boa noite a todos! Quero dizer que a reunião será breve. Não pretendo me alongar muito! É que não estou me sentindo muito bem. Estou atravessando um momento difícil por esses dias, o que tem me deixado triste. Peço a compreensão de todos.

Achei essas palavras de uma grande honestidade. Ao mesmo tempo, percebi também, uma silenciosa solidariedade vinda dos participantes.

Sim, a coragem de ser imperfeito e aceitar a própria vulnerabilidade.

08/09/15


Garrafa Térmica

Garrafa térmica

Era estranho nos despedir. Você, que tantas vezes esteve conosco… Mesmo com sol, chuva, frio, calor… lá estava você, todos os dias. A não ser que a gente viajasse! Mas, assim que voltávamos, sempre atenta e disposta, nos servia. Não sei o que você fazia quando não estávamos aqui; se descansava, se falava com as xícaras, se pensava na vida…

Doze anos juntos… é muito tempo! Quantos amigos recebeu em nossa casa? Quantas conversas escutou? Alegrias, reclamações, surpresas, tudo isso animado por essa bebida deliciosa que, dizem, foram os árabes que descobriram!

Mas, chegou um dia, você já não estava conseguindo manter o seu calor. Convenhamos, café, só se for quente. Não, não fique triste! Você sabe disso! Um dia a gente envelhece e já não consegue manter toda a quentura. Envelhece e morre. Não digo que você vai morrer! Talvez se aposentar.

Fiquei pensando qual terá sido a sua reação quando a nova garrafa térmica chegou. Vermelhinha, gordinha e de tampa transparente. O bule ficou surpreso. As xícaras, muito curiosas, bateram palmas dentro do armário. O pote de geleia fingiu que não era com ele. Todos ficaram sabendo da novidade!

Não sei se vocês duas já se falaram, se houve recomendações de sua parte, se a nova integrante de nossa mesa foi simpática. Uma coisa é certa: foi muito bom te segurar todos esses anos e contar com sua presença. Sejamos justos: você também nos segurou! E, não fosse você, o café perderia seu status!

Hoje de manhã, você já não estava aqui. Não quis perguntar o que se sucedeu. Peguei firme a nova garrafa, enchi a xícara e dei uma mordida no pão com manteiga.

É assim… Chegará um dia em que essa nova visitante não mais estará aqui. Também não estarei mais. Mas, em algum lugar de minhas memórias, sentado à mesa com minha família, lembrarei como a vida é generosa e bela!

22/09/15


Clarice

clarice-lispector

Em minha casa temos o hábito de lermos juntos com minha filha bons livros infantis. E fazemos isso em voz alta, vendo as ilustrações. Especialmente na 5a feira, dia em que nos desconectamos de tablets, TV, celulares e afins. É um momento para respirarmos!

Na semana passada, chamei minha filha para lermos “A vida íntima de Laura”.

_ Clara, chega aqui pra eu te mostrar essa história! Chega mais! É um livro que a Clarice Lispector escreveu para as crianças! Sabe quem foi ela? Uma das maiores escritoras brasileiras! Olha a foto dela aqui!

_ Ela é bonita, pai!

Ao início, minha filha estava brincando distraída, com uma boneca na mão. De repente, como num passe de mágica, ela se voltou totalmente para a narrativa. Encantada, fazia algumas pequenas observações.

É muito gratificante saber que, essa autora tão especial, se lembrou dos pequenos, sem fazer concessões, ou subestimando a capacidade deles.

Bom, recomendo esse livro tão especial e instigante. Viva Clarice!

(Indicação de leitura para crianças com mais de 8 anos).

01/10/15


Ensinar é também aprender

Muitas crianças apresentam dificuldades de aprendizagem na escola e que, muitas vezes, se reproduzem em casa. Na verdade, tudo depende muito da forma como se ensina.

Só para dar um exemplo: se você mostra a uma criança a foto de um rio onde estão jogadas muitas garrafas plásticas e pergunta a ela se isso está correto, pode ser que ela responda dizendo que não. Não está certo. E muitas vezes talvez ela diga isso, até por um certo automatismo; mas também, ela poderá focar no barco ao fundo e dizer que aqueles objetos flutuando na água estão o estão atrapalhando e que por isso ele está parado.

Numa perspectiva mais ampla podemos afirmar que, muitas escolas formais perderam o rumo do que significa verdadeiramente ensinar a uma criança. Isso se deve bastante a essa cultura pró vestibular que, pouco a pouco, infelizmente, foi invadindo os espaços pedagógicos, desde as classes iniciais. Não vou nem falar dos livros didáticos, sobretudo destinados a crianças pequenas.

Uma educação distanciada da vida, fria e racionalista, traz consequências nem tão difíceis assim de mensurar.

Muita coisa mudou… o que antes funcionava, hoje já não funciona mais.

Mas, claro, há esperança, não só da parte de educadores que fazem e pensam esse rico processo ensino-aprendizagem, propondo novos olhares e soluções; como também, de pais antenados com essa nova época.

Escola parada


Marioleia, a pulguinha que gostava de ler

Queridos leitores, é uma enorme alegria ter vocês por perto! Para mim, escrever é como lançar uma mensagem ao mar, dentro de uma garrafa. Quando ela chega a algum destino grandes surpresas podem acontecer!

Já são quase 4 anos desde que senti o chamado para ter o meu próprio blog e levar minha escrita há mais e mais pessoas! Vem dando certo! Já são quase 70 mil visualizações, não só do Brasil, como de diversas partes do mundo onde moram brasileiros, ou pessoas que compartilham nosso idioma. Minha gratidão a todos!

Como diz minha filha Clara, Marioleia gosta de ler! E certamente dá uma passadinhas por aqui para saber o que o seu “autor” anda escrevendo para gente grande!

“Marioleia, a pulguinha que gostava de ler” é um livro para crianças, mas que, certamente, também agrada aos adultos! Se você quiser adquirir um exemplar é só enviar um emai para (batista.eduardoa@gmail.com) e passarei todas as informações quanto ao envio e taxas.

Um grande abraço,

Eduardo marioleia_capa


Espantos

Espantos

Neste mundo de tantos espantos,
cheio de mágicas de Deus,
O que existe de mais sobrenatural
São os ateus…

Mário Quintana, poeta maior. Mario Quintana


Senhas

Estou começando a desistir de querer gravar minhas senhas. Não porque eu tenha uma memória ruim! São tantos números, letras e estabelecimentos…

Escutei algumas vezes o Rubem Alves dizer um verso da Adélia Prado de que ele gostava muito, e que só ele dizia com toda aquela solenidade:

“Aquilo que a memória amou fica eterno”.

Sim, não é possível amar minhas senhas!

Não bastasse isso, também comecei a me esquecer qual é o usuário! Sou eu, sou eu! Eduardo_ Augusto? Ou Edu_1984… ou será 1985? O aniversário do meu pai ao contrário + o antigo número de telefone da nossa casa? Não me lembro!

Que eu não me veja em apuros quando mais precisar! Senhas


Bebê a bordo

Acho que foi a Martha Medeiros quem disse que ” quase todo mundo tem uma história com aeroportos”. Concordo com ela. Se não teve, provavelmente um dia terá.

Eu estava sentado, aguardando o meu voo, quando, quase à minha frente parou um jovem pai carregando um bebê e aquelas sacolas que, principalmente, os pais de primeira viagem levam pra lá e pra cá.

Mas, e a mãe? Ela é tão essencial que fica difícil imaginar a cena sem sua presença…

Mais tarde, já dentro da aeronave, quem aparece? O pai com aquele pequeno ser fofinho. Mas aí, claro, você vai imaginar: ah, eu tava aqui lendo, a mãe já passou lá pra trás!

Durante a viagem, eis que escuto um choro vindo lá do fundo. Confesso que fiquei apreensivo. Não por mim! Mas, aquilo não foi muito à diante! Ufa!

Assim que todos sairam, perguntei à aeromoça:

_ Por acaso, aquele senhor estava sozinho com aquele bebê?

_ Estava, sim!

_ Mas, o neném só deve ter uns 10 meses!

_ Pro senhor, ver!

Nesse dia entendi a expressão “Bebê a bordo!” É, o amor é para os fortes!

bebê a bordo


Homenagem aos professores

Dona Nicota

Tatiana BelinkyProfessores

Foi nos anos finais da década de 40. (Há tanto tempo!) Meu primogênito Ricardo completara 6 anos de idade, e resolvemos matriculá-lo no primeiro ano primário da Escola Americana, do já então tradicional Mackenzie College, que ficava a três quadras da nossa casa. E Ricardinho, que era uma criança tímida e um tanto ensimesmada, não gostou nem um pouco da experiência de ficar “abandonado” num lugar estranho, no meio de gente desconhecida uma coisa para ele muito assustadora. E não houve jeito de fazê-lo aceitar tão insólita situação. Ele se recusava até mesmo a entrar na sala: ficava na porta, “fincava o pé”, sem chorar mas também sem ceder… Eu já estava a ponto de desistir da empreitada, quando a professora da classe, dona Nicota, se levantou e veio falar conosco. E todo o jeito dela, a maneira como ela olhou para o Ricardinho, o timbre e o tom da sua voz, a expressão do seu rosto e até a sua figurinha baixinha, meio rechonchuda, não jovem demais, muito simples e despojada, causaram imediatamente uma sensível impressão no menino. A tensão sumiu do seu rostinho, seu corpo relaxou, e ora vejam! ele respondeu com um sorriso ao sorriso da dona Nicota!

Vem ficar aqui comigo ela disse.

Você vai gostar. E acrescentou, para minha surpresa, Eu mesma vou levar você para a sua casa. E amanhã cedo, eu mesma vou buscar você, para vir à escola comigo.

Eu não sabia como agradecer. E nem foi preciso o que dona Nicota disse, ela cumpriu. E durante vários dias, até semanas, ela passou pela nossa casa, pouco antes do início das aulas, e levou o Ricardinho pela mão, a pé, até a escola e a sua sala. E o trouxe de volta, da mesma maneira. E até quando, certo dia, o menino estava adoentado e não pôde ir à escola, ela voltou para lhe dar uma “aula particular”, em casa para ele não se atrasar no programa. Tudo isso na maior simplicidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo…

O Ricardinho adorava a dona Nicota e não era para menos. Dona Nicota era a mais perfeita e linda encarnação da “professora primária” ideal a mais nobre e fundamental das profissões: a de ser a primeira a preparar uma criança pequena nas suas primeiras incursões na vida real com competência, dedicação, compreensão, paciência e carinho. E a consciência plena de estar dando à criança uma verdadeira base para o futuro cidadão.

Por que estou contando tudo isso a vocês, hoje? Porque, no Dia do Professor, eu senti que não poderia prestar maior homenagem a todos os “mestres-escolas” do Brasil do que incluí-los nesta “crônica-tributo” a dona Nicota, exemplo e paradigma de uma modesta e maravilhosa professora “montessoriana” e um grande ser humano.

Ricardo saiu de sob a asa de dona Nicota lendo e escrevendo. E hoje, jornalista, tradutor e escritor, esse avô de três netos continua se lembrando de dona Nicota, com carinho e gratidão.

Essa dona Nicota que a estas horas deve estar dando aulas montessorianas aos anjinhos do céu.

Crônica de Tatiana Belinky, escritora. Publicada na revista Nova Escola.