A vida pede passagem

“Eu vi um menino correndo, eu vi o tempo…”

Força Estranha. Caetano Veloso.

No meio daquele trânsito, entre faróis acesos, o menininho estendeu suas mãozinhas para frente em sinal de pare: a vida pede passagem. Por entre os carros ele caminhou ligeiro e assustado, de mãos dadas com sua mamãe. O ônibus em que eu estava parecia um dragão feroz…

Como estão barulhentas as cidades, você não acha? E tudo, é uma simples questão de regular os motores e, claro, os humores. O trânsito pode adoecer as pessoas e está na hora de aprendermos a correr com sabedoria, economizando toda energia que pode nos fazer sentir mais felicidade e harmonia.

A vida pede passagem. Por isso, acelere apenas o necessário… O tempo nos ensina que existe uma hora para tudo, basta apenas que você faça uma coisa de cada vez. Não tente voltar para casa carregando todo o peso de um dia.

Descanse, ande. Olhe para os lados e para a frente. Olhe pra você mesmo.

Eduardo

05/10/03.


Mandando beijinhos

Já faz um tempo que eu acompanhava a vida de Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina. Creio que, desde o momento em que vi, palestinos com pedras e bodoques nas mãos, enfrentando israelenses armados de fuzis. Eu pensava que alguma coisa devia estar errada, inclusive o ódio.

Lembro-me claramente, quando há uns 9 anos atrás, Arafat teve permissão para colocar os pés em Belém, na Terra Santa. Ele foi com a família, levando também sua filhinha. Na Gruta da Natividade, sorriu e posou para os fotógrafos, sentado no chão com a menina, bem próximo à estrela que representa, segundo os cristãos, o local exato onde Jesus teria nascido. Uma cena muito bonita! Parecia uma brincadeira!

Da primeira vez em que ele discursou na Sede das Nações Unidas em Nova York, em 1974, levantou o braço em punho e disse em inglês: eu sou um rebelde! Depois, em 1988, num discurso nesse mesmo parlamento, viria renunciar à luta armada. Pensei comigo: “Os brutos também amam!”

Os Acordos de Oslo, nos anos 90, deram início a um novo processo de paz entre palestinos e israelenses. Nos jardins da Casa Branca, Arafat e Yitzhak Rabin selam esses acordos e assinam “A Paz dos Bravos”, apertando-se as mãos. Uma cena que me marcou e creio que também a milhões de pessoas. Em 1994, os dois, juntamente com Shimon Perez, receberam o Nobel da Paz em reconhecimento aos esforços pela busca de uma solução pacífica para os conflitos.

O caminho da concórdia pode ser longo. Ter idas e vindas. Em 1995, Yitzhak Rabin, após cantar junto com a multidão a “Canção da Paz” num comício, foi assassinado com um tiro no peito por um judeu radical. Em várias partes do mundo, jornais e revistas exibiram um símbolo daqueles tempos; a canção que ele havia guardado no bolso, manchada de sangue, com um buraco de bala bem no meio. Tempos depois, aqui em nosso país, conheci uma brasileira que estava lá naquele instante. Ela me falou da comoção que tomou conta das pessoas ali. Daquele momento em diante houve um grande retrocesso nas relações, com retaliações de ambos os lados.

Quando Arafat esteve no Brasil, em 1988, a jornalista Marília Gabriela o entrevistou.  Perguntou a ele, como era para um povo viver 40 anos sem ter uma terra. Ele disse enfaticamente: “Mas nós temos! É a Palestina! É a Palestina!

Quando eu via pela televisão ou pelos jornais, notícias do mundo de lá, pensava comigo sobre o que faria se tivesse um pedacinho de terra e ele fosse invadido! Pensava numa solução e nem sempre encontrava respostas diante dos possíveis dilemas e desencontros desta  vida.

Já doente, rumo a Paris, para onde iria se tratar, Arafat se despediu do povo palestino, onde ficava seu quartel-general em Ramallah, jogando beijinhos para a multidão! Coisa que comumente ele fazia, quando cercado pelo seu povo. Um líder amado por sua gente, tantas vezes levando a esperança, essa, que navega corações: de bravos e de mansos!  Penso: não é pouca coisa ganhar o Nobel da Paz! Afinal de contas, “somos todos iguais, braços dados ou não… quem sabe faz a hora, não espera acontecer” como disse o compositor Geraldo Vandré. E que essa hora volte para palestinos e judeus, na Terra Santa.

Que haja amor e paz para todos nós!

Eduardo Augusto

12/11/04.


Começar de novo

Comecei escrevendo poesias na infância e quando estava na 3ª série fiz uma em homenagem ao Dia das Mães que foi rodada num mimeógrafo para toda a escola. Lembro-me nitidamente de receber em minhas mãos o texto e que naquele momento era também entregue a dezenas de outros alunos.

Na adolescência, escrevi milhares de poemas; até que um dia, percebi que todos eles falavam de alguma forma, dessa incompletude que tantas vezes sentimos. Mais na frente, resolvi então rasgar todos aqueles papéis repletos de significados, quem sabe, ocultos; frases subjetivas disparadas em muitas direções. Já disse Ferreira Gullar: “a poesia está em tudo, mas, não todo o tempo!”

Depois disso, fiquei quase uma década sem nada escrever… até que um dia, indo de ônibus para o centro da cidade vi uma cena que me marcou para sempre. Eu estava sentado bem na frente quando um velhinho deu o sinal. Muito devagarinho, muito mesmo, ele desceu cada degrau, enquanto o motorista aguardava pacientemente. Eu e todas aquelas pessoas que ali estavam acompanhávamos também seus movimentos. Era como se o tempo tivesse parado e algo de nossa solidariedade despertasse. Assim que ele alcançou a calçada, virou-se lentamente para o motorista, tirou o boné fazendo um gesto de agradecimento_ reverência por tão bela gentileza; fazendo-nos esquecer que, há pressa na cidade grande . O condutor do lotação respondeu com um singelo sorriso, consentindo com  a cabeça. Decidi a partir daquele instante que precisaria contar esta história e que começaria de novo a escrever, trilhando agora o caminho da crônica, deixando falar com objetividade a voz do coração.

Hoje, dia 19 de agosto, meu blog Maneira Simples, faz um ano! Uma grande alegria para mim! Quase 28 mil visualizações, do Brasil e de outras partes do mundo.

Quero expressar minha gratidão a todas as pessoas que por aqui passaram, aos meus queridos amigos que tanto me incentivaram a publicar meus textos, que comentaram, divulgaram. Bem grato a todos!

Maneira simples:  “Nada é mais real que aprender maneira simples de viver, tudo é tão normal se a gente não se cansa nunca de aprender, sempre olhar, como se fosse a primeira vez, se espantar como criança a perguntar por quês…”.

Grato ao Almir Sater por também ter me inspirado desde de que escutei pela primeira vez sua música!

Um abraço gente,

Eduardo

19/08/12

http://letras.mus.br/almir-sater/868447/


O céu não tem limite

Minha filha Clara: pai, sabia que Papai do céu tá vendo sempre a gente? Mas a gente não consegue ver Ele! Ele mora laaá no alto!

_ Por que que a gente não consegue ver ele, filha?

_ Ah pai, é por causa do teto, né?!

Eduardo.

09/08/12