Mapas da Memória

Bento Rodrigues

Bento Rodrigues, o pequeno povoado de casinhas simples, distrito de Mariana-MG, surgiu no mapa com o rompimento das barragens do Fundão e de Santarém, pertencentes à Mineradora Samarco. Esse bucólico lugar existe agora apenas na imaginação e na memória afetiva de seus moradores. Está estampado nas páginas manchadas dos noticiários e em  milhares de posts indignados nas redes sociais. Uma tragédia sem precedentes que ceifou vida humanas (os números ainda aparecem); de animais e plantas; contaminou o solo, as águas e o abastecimento de muitas cidades. Um rastro de destruição e morte que nos fala da omissão de empresas mineradoras e órgãos governamentais, muito mais preocupados com o lucro desmedido. Ao vermos as fotografias, retratos de uma triste realidade, o que escutamos é um silêncio sem respostas, diante de toneladas de lama que se acumulam, sem que braços e pernas deem conta de atravessá-la. Resta a desolação perante esse cenário sombrio, outrora  verdejante, com suas cascatas de águas transparentes, peixinhos a nadar, passarinhos a cantar. O sino chamava para missa, a sirene avisava que era hora das crianças estudarem. O almoço na mesa à mesma hora, o cochilo da tarde, pequeno descanso merecido. À noite, o gracioso céu para a contemplação das estrelas.

Bento Rodrigues permanecerá para sempre no mapa das emoções dos que sobreviveram, mas que não puderam mais voltar para suas casas desde aquele dia em que tudo aconteceu. Nenhum hotel, ou pousada, poderá trazer de volta a essas pessoas o aconchego e a  paz de seus lares.

Entre tantas histórias, a do padre Luiz, que me conta ter feito seu estágio pastoral de seminarista no distrito, convivendo diariamente com sua gente. Uma estudante de medicina me relata que ao fazer os primeiros atendimentos aos desabrigados, no dia seguinte ao ocorrido, uma velhinha não se lembrava dos remédios que tomava. A profissional de saúde fazia um esforço para auxiliá-la, quando escutou: “Não preocupa não, minha filha, a gente já perdeu tudo mesmo”. Uma das mais antigas moradoras do distrito, Dona Orídes da Paixão, 83 anos,  se recorda com saudades da casa que desapareceu e de suas panelas, “areadas com carinho”. Ela diz que se salvou, mas tudo o que gostaria é de ver, pelo menos, a rua onde morava. Também desapareceram as vaquinhas de Seu Zé, como ele as chamava; a horta da Adriana; os cadernos de Lúcia; os bordados de Dona Maria. Tanta coisa se perdeu… Alguns animais foram salvos pelos bombeiros, mostrando também o valor de cada vida, trazendo um alento aos seus donos.

Teremos de aprender pela dor. Um país está em todo lugar e caberá a cada um de nós construir esse futuro límpido e radiante, se soubermos extrair das lições do presente, tudo que ele tem a nos ensinar.

Minha solidariedade a todas as famílias. E que possam levar adiante suas vidas com dignidade e coragem.

11/11/15

Bento Rodrigues 2


Existe

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Existe o Pico da Neblina e existe a ponta do Monte Everest _ um montinho de neve que se desfaz a cada vento que sopra. Existe tanta coisa nesse mundo tão pequeno. Pequeno apenas diante do microscópio! Entenda!

Existe a flor que nasce no jardim do vizinho. Nunca a vi de perto. Existe o abridor de latas e existe quem se esqueceu de levá-lo! Existe uma palavra. Uma? Não, milhares de sons. Existe a roda gigante. Existe o mês de maio. As provas da escola. Existe o que ainda nem aconteceu. Mas isso eu não conto.

Existe o poeta e a pipoca. Existe o meu pé. Existe o estalar dos meus dedos. Existe memória por muito tempo ainda! Quem sabe, eternamente!

Existe uma velha senhora que mora nos campos de arroz da Tailândia. Ela vive. Existe aquele velho chinês que anda de bicicleta, só de vez em quando. Ele prefere vender papéis. Poucos querem comprar.

Existe o músculo cardíaco. Existe muita presença por aqui. Existe aquela música que só ouvi uma única vez. Nunca mais. Pelo menos o sol estava se pondo naquela hora. Existe o Mar Morto. Existe a Galiléia. Lindo nome para um lugar.

Existe o tempo congelado num segundo de tempo. Parada pra pensar? Existe o gesto. Muitas coisas no singular, e outras no plural. Existe o que quase se perdeu. Quem diria! Não fossem os velhos historiadores!

Existe essa idéia que surge. Essa idéia que, às vezes ruge. Existe o eclipse. O si. O eu. O aguilhão. Ora, ora…

Existe o meteoro que nem chegou à Terra. Os astronautas do futuro? Onde estarão? Existe o mínimo múltiplo comum. Existe a vírgula. O ponto de reclamação. Existe. Pode crer que existe. A paz dos anos 70. O amor de anos totais. O amor de anos legais.

Existo. Você também!

Ele Existe! Arquiteto do Divino Sol e do Eterno Começo. Ele juntou todos os átomos e móleculas e expandiu tudo em criação e coração. Existe vibração.

Existe a vida.

Agosto de 2004.


Tanto céu

aviao

Com tanto céu e terra pra ver do alto, a janelinha do avião é bem pequeninha. (É de propósito!)

_ O que o senhor deseja pra beber?

_ Um suco, por favor!

_ Pêssego, ou laranja?

_ Não tem de uva?!

_ Não temos, senhor! Somente pêssego e laranja! (Não, não é de propósito!)

E aquela voz metálica da aeromoça dando as instruções do voo? É bem charmoso, não é mesmo? Afinal de contas, no microfone da escola sua voz sai praticamente igual. No celular, idem! Mas, quando se está dentro de uma aeronave, a voz que sai, já está no espaço sideral…!

A priori quero sempre estar na janela! A não ser que minha filha esteja junto! É um espetáculo ver o mundo lá de cima! Se bem que me lembrei um dia: mas daqui tudo é tão pequeno! Tudo é tão pequeno… lá embaixo!

Agora, sonho mesmo é deitar nas nuvens! De preferência nas mais brancas e fofas!

10/06/15


Colorir

cores

Se você entrar numa livraria e ficar lá alguns instantes, certamente ouvirá alguém perguntando sobre o “Jardim Secreto”. Um enorme sucesso de vendas!

É um livro para colorir, inclusive por horas, caso assim se deseje. A ideia é desestressar, nem que seja por alguns momentos. Há quem diga que funciona mesmo! Não duvido!

Como disse o escritor Rubem Alves: ” A vida não é colorida. É colorível”.

15/04/15


A dor que nos cala

Viaduto 2

Um estrondo. Silêncio. Nuvens de poeira. Gritos de desespero. Pedidos de socorro.

2 mortes. 23 feridos. Dentre eles, dois jovens. Hanna Cristina, 25 anos, motorista de um micrônibus há poucos anos e Charlys do Nascimento, 24 anos, servente de pedreiro. Histórias que se cruzaram, nesse destino para a morte. Suas lutas, do tamanho de uma batalha como a dos Guararapes, (nome do viaduto que desabou) e que levou para longe seus sonhos. Ele, segundo sua esposa, era uma benção em sua vida, para o pai, um filho muito presente; ela uma jovem de belos traços e espontânea alegria, que amava o que fazia.

O pequeno ônibus que Hanna dirigia tinha a cor amarela e o número 70, ano em que o Brasil venceu uma Copa do Mundo. Artimanhas  do destino. Segundo relato dos sobreviventes, Hanna teria freiado bruscamente seu veículo, ao escutar um forte estalo que antecedeu à queda de toneladas de concreto.

Àquela mesma hora, sua filhinha Ana Clara, de 5 anos, estava com ela. Para um coração de mãe, segundos podem ser tempo suficiente para se lembrar da cria e evitar o pior. Graças a Deus, a menina sobreviveu. Quantos sobreviveram! Uma tragédia que poderia ter se abatido sobre muitas famílias, já que o acidente ocorreu num horário de grande movimentação de carros e ônibus, numa grande avenida de Belo Horizonte. Um milagre _ muitos diziam. Por tudo isso, e principalmente, para os moradores desta grande cidade, aquela 5ª feira, véspera da partida, entre Brasil e Colômbia, não foi mais a mesma.

Era como se os escombros do viaduto que caiu, cobrissem nossas vistas, e fechassem a passagem do ar, tornando-o irrespirável. Uma hora sufocante, triste e desesperadora, sobretudo para todas aquelas pessoas que estavam naquele local.

Tamanha era a festa em torno do futebol por todo país que não se podia ou não se desejava, que os ecos dessa tragédia fossem veiculados em todos os jornais, com a contundência diante da magnitude do fato. Foi muito mais do que um balde de água fria na alegria geral. Mas, quando a vida está em jogo, o que importa realmente, é que ela perdure ao máximo e que todos cheguem sãos e salvos ao seu destino.

Pensando nessas histórias, fiz um exercício de imaginação. Hanna dizia alegremente para Ana Clara:

_ Filha, hoje vamos passear juntas!

_ Êba! Vai ser legal, mamãe!

Para uma criança, andar de ônibus num dia de férias, pode ser a maior a diversão. Depois, não foi mais assim.

Charlys talvez tenha dito à esposa:

_ Cristiliane, não seu preocupe, hoje busco você no trabalho!

_ Não precisa, Charlys!

_ Faço questão, Cris!

Que as lágrimas de seus pais, filhos, parentes e familiares possam um dia secar e que a lembrança mais viva, seja a do sorriso, da jovialidade e da coragem de vocês! Que esta tragédia nunca mais se repita! E que os homens, longe da ganância e do erro, tenham na memória que a vida é o bem mais precioso que temos!

Que o tempo se renove com o registro sincero e verdadeiro de tudo que se pôde viver de bom ao lado dessas pessoas, com toda Gratidão! Cada dia, cada hora, vencendo, construindo e seguindo em frente nessa longa estrada da vida.

Com essas palavras, minhas sinceras homenagens a Hanna Cristina e Charlys Nascimento. Aos familiares e amigos, meus sentimentos.

Fotografia: Portal G1

Eduardo

16/07/14


A força do bem

Dr Ivan

Identificar em nós sentimentos, não é uma coisa tão fácil, como pode parecer à primeira vista. Muitas vezes, sequer, somos capazes de “ver” o que se passa em nosso interior.  É preciso um longo aprendizado, para que se descortine diante de nossas vistas esse imenso mar do sentir.

Foi muito bonito ver durante essa Copa do Mundo tantos homens chorando. Sim, eles choram! Também a mulher, o idoso, a criança. Nossa natureza tem sede e fome de alegria, amor, esperança! Assim, nos tornamos mais belos!

Em meio a tantos assuntos falando de futebol, foi marcante demais assistir à história do médico Ivan Vargas e o menino africano Sumba, ontem à noite no Fantástico. Nem tudo é luxo na TV. Nem tudo é lixo. O Show da Vida acontece! E é impressionante saber que existem pessoas assim, como o Dr. Ivan, que se emocionam, porque doam de si, seu melhor! Pessoas que encurtam distâncias e fazem da fé o seu alimento de cada dia! Histórias inspiradoras que nos fazem acreditar que viver vale a pena!

Parabéns Dr. Ivan, vida longa, Sumba!

Assistam!

http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/07/medico-traz-menino-africano-com-tumor-para-se-tratar-em-sao-paulo.html

 

 Eduardo

14/07/14


Não foi dessa vez

woddy allen

Dessa vez não deu para o Brasil nessa Copa. Como disse Woddy Allen: “A vida às vezes é chata, mas ainda é o melhor lugar onde se pode comer um delicioso bife”.

Há quem prefira salada!

Eduardo

13/07/14


Pequenas felicidades

Pequenas felicidades

Lembrei-me hoje de um pequeno poema do dramaturgo alemão Bertold Brecht e que se chama Felicidade. Ele começa assim:

 “O primeiro olhar da janela, de manhã

O velho livro perdido e reencontrado

Rostos animados

A neve, a sucessão das estações… e termina dizendo: ser camarada!

Cada um de nós também pode fazer “sua lista de pequenas felicidades”. Uma delas, para quem já a experimentou, é colher fruta no pé e, claro, saborear ali mesmo tanta gostosura!

 Que possamos saborear mais cada instante da vida!

Eduardo Augusto

31/01/14


Braço forte, cabeça e coragem

Santiago II

Santiago Andrade, 49 anos, repórter cinematográfico da rede Bandeirantes de televisão. Um homem como outro qualquer, um pai de família, como tantos outros.

Você teve a coragem de estar no olho do furacão captando com suas lentes a indignação de muitos, mesclada com a violência irracional que nos faz pensar que algo está errado. Muito errado. Um rojão, um estrondo. E sua vida se foi. Suas ideias, seu passado a duras penas conquistado com o suor de teu rosto, seus planos para o futuro.

Como não se emocionar com a carta escrita por sua filha, Vanessa Andrade. Registro que nos faz enxergar o quanto você era uma pai amoroso e antenado, que seguiu junto com ela em tantos momentos. A adolescência chegou: “Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço.”

Carregando por tantos anos sua câmera, “braço forte, cabeça e coragem e fé” como cantou o poeta.

Como não se emocionar ao ver repórteres e cinegrafistas, inclusive de outras emissoras e veículos de comunicação, colocarem seus instrumentos de trabalho no chão, numa justa homenagem. Como não se emocionar ao assistir ao final do Jornal Nacional, jornalistas todos de pé, em silêncio, sua fotografia ao fundo e, ao final, os aplausos.

Como não se render diante de tamanha violência, como não honrar seu nome, sua profissão, sua luta?

Santiago de Andrade, sua história vivida e construída, não será esquecida enquanto existir (e que exista sempre), uma imprensa livre, mesmo com seus defeitos e lacunas. Enquanto não vivermos num país, com justiça social .

Com essas palavras, minha sincera homenagem! Continuemos a trabalhar pela paz!

Eduardo Augusto

12/02/14


Amigo é casa

Amigo é casa

Sempre observei o fato das crianças “fazerem” amizades quase que instantaneamente. Um sorriso, um olhar, um movimento e já estão chamando pra brincar _ como já se conhecessem há bastante tempo. O filósofo Pitágoras disse certa vez: “a amizade é uma igualdade harmônica”.

Tem encanto e beleza uma amizade verdadeira. Amigos se contam nos dedos, falava o meu pai. Muita gente diz que são nas horas difíceis que eles se apresentam e ali permanecem, até que a tempestade passe.

Fazer amigos, construir pontes de solidariedade e afeto, expandir em nós, o amor que também vem do outro.

Coração livre e aberto, porque “Amigo é casa que se faz aos poucos” , como cantou o poeta!

http://www.youtube.com/watch?v=3v73ecjopiQ

Eduardo Augusto

02/02/14